Sou Sandra Moura, nasci em Caxias – Maranhão e passei toda a infância no povoado Brejo de propriedade de meu avô. Meu pai tinha plantação de cana e minha mãe cuidava da casa, dos filhos e cozinhava todo dia para mais ou menos cinqüenta homens que trabalhavam para o meu pai no corte da cana e na produção da cachaça. Às vezes digo às minhas colegas, que não tive infância porque sendo a filha mais velha, dos dez filhos do casal, tinha que ajudar minha mãe a cuidar dos meus irmãos.
Minha mãe sabia ler um pouco e com esse pouco que sabia, foi que me alfabetizou. Acho que na época eu tinha sete anos. Foi muito difícil porque o tempo dela era pouco e paciência quase não existia. Lembro-me que ela ensinava soletrar de uma forma muito estranha, eu tinha dificuldades de entender e ela ameaçava puxar minha orelha até esticar. Eu tinha medo quando ela chamava para “dar a lição”. Era para ler soletrando e eu não conseguia. As palavras que me castigava era:ARROZ E MAÇÃ. Estas se hoje alguém pedisse para soletrar como minha mãe ensinou eu não conseguiria.
Em casa não tinha muito o que ler, só quando meu pai ia à cidade que levava novidades. Era o cordel que chamavam de rumanso. Ele reunia os trabalhadores nas noites de folga, lia e eles ouviam com a maior animação. Eu ficava escondida ouvindo, porque onde tinha homens meninas não podiam ficar.
Aos doze anos, mudei-me para a cidade e fui morar na casa de uma tia. Como já sabia ler, fiz um teste e fui matriculada na segunda série em uma escola onde fiquei até concluir a quarta série. Não gostei muito porque fiquei separada de meus pais, queria desistir de estudar porque não gostei da idéia de ficar longe deles e da avó. Mas tinha um tio que gostava muito e me fazia todos os gostos escondido de minha tia que dizia que ele ia me estragar.
No período de férias retornava para o interior e só voltava à cidade no início das aulas. Nesse período pedia emprestadas revistas de fotonovelas: Capricho, Sétimo Céu, Ilusão, Júlia, Sabrina e tudo o que aparecesse. Só podia ler quando todos dormiam, porque minha mãe achava que aquilo não era leitura recomendada para uma pessoa da minha idade. Para ler, tinha que acender a lamparina. A fumaça fazia arder os olho, mas isso não tinha importância, o que eu queria mesmo era ler.
Quando conclui a quarta série, queriam que eu estudasse no colégio das freiras, porque lá só entrava mulheres e eu já estava mocinha. Como era caro para uma família grande, fui então estudar em escola de padre que também era só para mulheres. Nessa escola as leituras que fazíamos eram no livro didático. Foi então que descobri que em uma sala isolada da escola existia um caixão fechado que só o padre podia abrir. Fiquei curiosa para saber que segredo ele escondia e tentei até conseguir abrir um pequeno espaço que coubesse um lápis. O que encontrei? Livros e revistas que as outras alunas levavam e ele tomava e guardava para não serem lidos. - É proibido ler essas coisas indecentes! Dizia ele ao levar as revistas e livros para o esconderijo. Nessa descoberta encontrei uma revista que contava toda a história de vida do cantor Wanderlei Cardoso, que eu achava lindo. Li e ainda emprestei para as colegas lerem.
Um dia o padre descobriu que alguém estava tirando as revistas e não deu outra. Entregaram-me! O castigo foi escrever apenas cem vezes a seguinte frase: Não mexerei mais naquilo que está guardado, porque é pecado.
Passaram-se os anos e fui percebendo que existiam outras literaturas que deveria conhecer. E das leituras que fiz, a que mais me encantou foi Maria da tempestade, obra de João Mohana, é um romance que aconteceu em São Luis.
Atualmente tenho lido apenas para estudar. Além disso, as leituras que tenho feito é de relatórios, processos e documentos estritamente profissionais, nenhuma leitura para deleite. Chato, não?
Sandra de Oliveira Moura
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